No cenário de crise que se desenha nas unidades de saúde de Campo Grande, pacientes sofrem com a paralisação de tratamentos odontológicos devido à falta de equipamentos essenciais. A situação, relatada pelo Sindicato dos Odontologistas de Mato Grosso do Sul (Sioms), evidencia falhas na gestão da prefeita Adriane Lopes e na condução das políticas públicas de saúde pela secretária municipal de Saúde, Rosana Leite.
O problema não é pontual. De acordo com o Sioms, 11 unidades da Capital enfrentam deficiências graves, como cadeiras odontológicas sucateadas, ausência de autoclaves — fundamentais para a esterilização de instrumentos — e a falta de compressores, o que tornou a crise ainda mais aguda. Sem os compressores, boa parte dos procedimentos odontológicos está completamente parada.
“Sem o compressor, a seringa tríplice, o sugador e os motores de alta e baixa rotação não funcionam. É impossível realizar cirurgias, remover cáries ou fazer restaurações”, afirmou o presidente do Sioms, David Chadid. Isso significa que atendimentos básicos, como profilaxias e raspagens, e procedimentos mais complexos, como tratamento de canal e remoção de cáries, estão praticamente suspensos.
Espera de meses e improvisos insuficientes
O reflexo da negligência administrativa recai sobre os pacientes, que, em algumas unidades, aguardam há até seis meses por um simples atendimento. Na unidade do bairro José Tavares, por exemplo, a fila cresce a cada semana, enquanto no posto do Iracy Coelho, a situação é ainda mais crítica: não há sequer dentista disponível.
Como resposta, a Secretaria Municipal de Saúde propôs uma medida paliativa: o encaminhamento de pacientes para unidades próximas ou serviços de urgência. No entanto, essa solução, descrita como “improvisada” pelos próprios profissionais da área, só transfere o problema de um ponto da cidade para outro, gerando um efeito cascata de superlotação.
Promessas e burocracias
Em reunião com o sindicato, a Sesau garantiu que há processos de compra em andamento para adquirir 180 novas cadeiras odontológicas, além de compressores, autoclaves e equipamentos de raio-X. No entanto, a promessa de novos equipamentos está ancorada em repasses federais e estaduais e, como de costume, enfrenta a lentidão dos trâmites administrativos.
O problema com os compressores ilustra bem a gestão reativa da atual administração. Segundo a secretaria, o contrato de manutenção expirou e três unidades sofrem com falhas elétricas recorrentes, o que leva à queima dos equipamentos. Enquanto isso, a Energisa foi acionada, mas não há prazos definidos para a solução.
Críticas à falta de planejamento
Para especialistas, a crise na saúde bucal de Campo Grande vai além da falta de equipamentos. “É um retrato claro da ausência de planejamento e de um acompanhamento contínuo das necessidades básicas das unidades de saúde”, destaca um profissional da área que preferiu não se identificar. A crítica se estende ao fato de a gestão municipal agir apenas de forma corretiva, sem políticas preventivas e sem a manutenção regular dos equipamentos.
A prefeita Adriane Lopes, desde que assumiu a gestão, tem enfrentado críticas pela falta de eficiência em áreas essenciais. A saúde, particularmente, tem sido um calcanhar de Aquiles, com denúncias frequentes de filas de espera, estrutura precária e recursos subutilizados. Rosana Leite, por sua vez, é alvo de cobranças por não ter conseguido acelerar os processos administrativos e por apresentar soluções que não atendem à urgência do problema.
Enquanto isso, os pacientes esperam
Em meio a promessas e medidas paliativas, quem sofre são os cidadãos que precisam de atendimento imediato. Pacientes como os do posto José Tavares, que esperam há meses para tratar uma cárie simples, ou os do Iracy Coelho, que sequer têm acesso a um dentista, questionam até quando terão de esperar pela ação efetiva do poder público.
A gestão Adriane Lopes e a condução da saúde por Rosana Leite estão sob pressão. A crise não é apenas um problema técnico ou administrativo: é uma questão de saúde pública, que afeta diretamente a qualidade de vida da população. A cada novo prazo administrativo, o sofrimento dos pacientes aumenta — e a paciência, inevitavelmente, se esgota.
font: semanaon.com.br
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